Foto de oficina online sobre discurso de ódio com jovens.

Reconhecer, Resistir, Remediar: ódio contra mulheres na internet e a juventude

De março a dezembro de 2020, em parceria com a Rede Conhecimento Social e o IBEAC, o InternetLab realizou oficinas direcionadas a jovens de 16 a 25 anos, a fim de visibilizar e desnaturalizar o discurso de ódio online direcionado às mulheres.

Notícias Desigualdades e Identidades 15.12.2020 por Fernanda K. Martins e Mariana Valente

Com o crescimento das discussões acerca da importância de considerar o modo como a incitação ao ódio ocorre na esfera online e se direciona a grupos historicamente lidos como subalternos, desde 2018, o InternetLab tem se engajado em compreender como o discurso de ódio contra mulheres é entendido social e juridicamente. Essa iniciativa tem o apoio do International Development Research Center e faz parte de uma parceria com a instituição It for Change, que, na Índia, tece questionamentos similares aos que temos feito por aqui.

Entre as várias atividades do projeto, há uma frente para, por meio de pesquisa participativa, compreender: como a juventude percebe esse tema? Incitação ao ódio contra mulheres é visto como um comportamento aceitável? Eles e elas se sentem afetados(as) diretamente pelo assunto?

Para isso, foram feitas  parcerias com a Rede Conhecimento Social, organização especializada em iniciativas de pesquisa participativa, e com o IBEAC, que atua na promoção de direitos e de cidadania em vários territórios na cidade de São Paulo. Também foram organizadas oficinas (online) de março até dezembro de 2020, ao lado de 14 jovens, moradores de diferentes territórios periféricos da região metropolitana de São Paulo. A cada encontro, os jovens saíam com uma “missão”. 

Além das trocas estabelecidas, fundamentais para construir respostas para as perguntas iniciais, a ideia era que eles também tivessem a experiência de, ao longo do processo, tornarem-se pesquisadores do tema e pudessem, assim, formular novas perguntas. Ao longo dos primeiros encontros, buscou-se conectar as visões que foram apresentadas por eles e os conceitos de discurso de ódio que se encontram na literatura, o que foi feito também  a partir da análise das políticas das plataformas de internet e suas aplicações.

Foto de oficina online sobre discurso de ódio com jovens. O print da chamada de vídeo é composto pela imagem de diversos jovens e as Diretora e Coordenadora do InternetLab, Mariana Valente e Fernanda Martins, respectivamente.
Participantes durante oficina, feita por videoconferência, realizada no mês de novembro.
Resposta recebida por um dos jovens que teve como missão, após a oficina do mês de março, perguntar a pelo menos dois conhecidos o que eles compreendiam como “discurso de ódio”.

Os jovens entrevistam

Entre os meses de agosto e setembro, os participantes tiveram a missão de realizar pelo menos duas entrevistas em profundidade com pessoas de perfis diversos (no que diz respeito à idade, gênero, pertencimento étnico-racial e classe social). Foram eles que, autonomamente, fizeram os roteiros das entrevistas, a gravação dos áudios e as transcrições, com o apoio das equipes das instituições parceiras – em especial, a Rede Conhecimento Social ofereceu um treinamento sobre como fazer perguntas que não direcionam as respostas, desenvolveu uma tabela de perfis, explicou os critérios do IBGE para determinação de classe social no Brasil e auxiliou na codificação das entrevistas.

Alef Santos, um dos jovens pesquisadores, contou, em matéria do Repórter Justiça, sobre como foi esse processo de falar com pessoas sobre o tema. Em suas palavras, “a gente tem feito entrevistas […] com todas as classes, todas as cores, para a gente saber […] o que essas pessoas acham sobre esse tema, se elas têm alguma solução. E acredito que foi surpreendente as devolutivas das entrevistas, porque foram respostas extraordinárias e com base nestas respostas agora estamos procurando maneiras de como a gente vai combater esse discurso”.

Muitos pontos interessantes surgiram dessas entrevistas; entre eles, ficou muito visível a responsabilização exclusiva das mulheres por parte considerável dos entrevistados: muitos frisaram a importância de as mulheres preservarem suas imagens nas redes sociais para evitar situações violentas. Outro ponto foi que a maior parte dos que foram ouvidos desconheciam as políticas contra discurso de ódio das próprias plataformas, como é o caso do Facebook, Instagram, Youtube e Twitter.

Termos que apareceram nas definições dos entrevistados do que seria “discurso de ódio”. Os termos são agessão/agressivo, machismo, deplorável, não alteridade, violência, ofensa, falta de pesquisa, opinião (2x)/ideologia, ignorância (3x), redes sociais, intelolerância (3x) e racismo.
Termos que apareceram nas definições dos entrevistados do que seria “discurso de ódio”.

Duda Pimentel, uma das jovens pesquisadoras, também em entrevista ao Repórter Justiça, afirmou que “É muito importante falar sobre isso porque, infelizmente, o discurso de ódio, o assédio nas redes sociais está muito normalizado na nossa sociedade […] a gente não percebe às vezes e, quando você se aprofunda no assunto, você vê muita coisa que acontece todos os dias, todos os minutos, principalmente, com as mulheres…”. 

Desdobramentos

Como Alef mencionou acima, o grupo estava pensando em formas de combater o discurso de ódio contra mulheres online. A partir das experiências de aprofundamento e análise das entrevistas, os jovens dividiram-se em grupos e foram mentorados por profissionais experientes no desenvolvimento de projetos culturais, a fim de que desenvolvessem propostas de intervenção. 

A decisão dos grupos, a partir de reflexões sobre as respostas que vieram, foi de fazer três projetos: um destinado a mulheres com menos de 40 anos, outro a mulheres com mais de 40, e outro a homens de todas as idades. Em fase de execução, os projetos vão ser lançados no primeiro trimestre de 2021, nos múltiplos espaços e plataformas em que estão programados para ocorrer. Acompanhe nosso site e redes sociais para conhecê-los.

compartilhe