Lançamento: “Domésticas Conectadas: acessos e usos de internet por trabalhadoras domésticas em São Paulo”

Notícias Desigualdades e Identidades 26.06.2018 por Institucional

Estamos lançando hoje os resultados da pesquisa “Domésticas Conectadas: acessos e usos de internet por trabalhadoras domésticas em São Paulo” (clique aqui para ter acesso ao relatório), realizada pelo InternetLab, a Rede Conhecimento Social, e a Consult Pesquisa de Mercado. O principal objetivo da pesquisa, que teve início no segundo semestre do ano passado e contou com etapas qualitativa e quantitativa, foi produzir dados inéditos sobre o papel das tecnologias digitais na vida de mulheres trabalhadoras domésticas.

Os números e informações apresentados abordam as formas e hábitos de acesso à Internet por essas trabalhadoras, os usos que elas fazem (entretenimento, busca por informações sobre saúde, materiais educativos, notícias), níveis de confiança e preocupações com segurança, privacidade, o impacto que a internet tem sobre suas oportunidades de trabalho e renda, mobilização política e comunitária, e respeito aos seus direitos online. Sobre esse grupo incidem desproporcionalmente desigualdades de gênero, raça e classe social, e é essencial a produção de dados para o desenho de políticas e ações efetivas que levem em conta essas perspectivas.

 

Principais resultados/Destaques

Uma das mais importantes constatações é que essas trabalhadoras domésticas têm pouca confiança na internet para a realização de algumas atividades, como comércio online. Apesar da maioria realizar pesquisas de preço, poucas fazem compras (27%, em comparação com a média nacional, que é 38%), e menos ainda vendem (22%).

Um outro ponto importante é que apresenta noções de privacidade mais robustas que a população em geral, o que é justificado por temores relativos à segurança e violência. Por exemplo, obtivemos relatos de trabalhadoras que não postam fotos com bens de valor nas redes sociais e não costumam utilizar a rede para divulgar seu trabalho para desconhecidos, por temores em relação à sua segurança.

Os usos em relação à educação também chamaram a atenção: no grupo das trabalhadoras domésticas, a busca por qualificação por meio de educação online não é muito frequente na modalidade cursos formais, e a utilização da internet para atividades ou pesquisas escolares (31% no total) é menor que a verificada na média nacional (41%). Para pesquisas em relação à saúde, por sua vez, as trabalhadoras domésticas procuram muito mais informações na internet (66%) que a média nacional (42%); uma justificativa que nos foi apresentada foi que não confiam nas informações que lhes são prestadas nos serviços de saúde.

50% delas não têm acesso ao wifi na casa dos patrões; a utilização das redes se dá primordialmente para comunicação (com a família, em grande parte dos casos, mas também com patrões e outras pessoas), e os dados que indicam que o recurso mensagem de voz tem um papel maior para pessoas com menor escolaridade.

 

Metodologia

Na primeira etapa do trabalho, fizemos uma oficina com 27 trabalhadoras domésticas, que levantaram questões e hipóteses importantes sobre o tema. Utilizamos a metodologia PerguntAção, desenvolvida pela Rede Conhecimento Social, que consiste na construção participativa de todas as etapas do processo, colocando as vozes das empregadas domésticas no centro da construção do conhecimento, desenho e interpretação dos dados da pesquisa. A partir disso, foi elaborado um questionário (também inspirado por perguntas presentes no TIC Domicílios, desenvolvido pelo CETIC), que foi respondido por 400 trabalhadoras da Grande São Paulo. Uma nova oficina foi realizada, com o mesmo grupo, para discussão e interpretação dos resultados da etapa quantitativa.

Ficha técnica

Organizadores: Associação InternetLab de Pesquisa em Direito e Tecnologia  (www.internetlab.org.br) e  Rede Conhecimento Social (conhecimentosocial.org)

Etapa quantitativa e aplicação de questionários:  Consult pesquisa de mercado

Pesquisadoras envolvidas:

Pelo InternetLab: Mariana Valente e Natália Neris  (colaboraram: Clarice Tambelli, Juliana Ruiz e Lucas Lago)

Pela Rede Conhecimento Social: Marisa Villi e Harika Maia

Pela Consult: Inês Siloto

Projeto Gráfico: Maíra Fernandes e Tiago Kinzári

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